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quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Oscar Niemeyer morre aos 104 anos



quinta-feira, 6 de dezembro de 2012
Arquiteto comunista Oscar Niemeyer morre aos 104 anos

Após 34 dias de internação, Oscar Niemeyer morreu hoje aos 104 anos, às 21h55. De acordo com a equipe médica do Hospital Samaritano, no Rio de Janeiro, onde o arquiteto encontrava-se desde o dia 2 de novembro, ele veio a falecer em decorrência de uma infecção respiratória.
Há dias, Niemeyer, que em 15 de dezembro completaria 105 anos, vinha sendo submetido à hemodiálise e à fisioterapia respiratória. Ainda de acordo com a equipe médica, só perdeu a lucidez hoje pela manhã, quando foi sedado após a infecção foi constatada.
Leia abaixo entrevista exclusiva de 2005 que Niemeyer, à época com 97 anos, deu ao Brasil de Fato:


Lula podia ter feito mais, diz Niemeyer
João Alexandre Peschanski e Taís Peyneau
do Rio de Janeiro (RJ)
Sentado, em seu escritório em Copacabana, no Rio de Janeiro, Oscar Niemeyer balança a cabeça. “Cansamos de esperar as reformas que Lula prometia”, diz, comentando a crise do governo e do Partido dos Trabalhadores (PT). Em entrevista exclusiva ao Brasil de Fato, o arquiteto revela que nunca teve ilusões em relação ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que, segundo ele, chegou ao poder “cheio de ânimo”, mas sem um projeto para mudar radicalmente o Brasil.
Esboça um sorriso. Mantém-se otimista, pois “Lênin já dizia que sem sonhar as coisas não acontecem”. Segundo ele, Lula ainda pode “virar a mesa” e implementar ações efetivas contra a pobreza. Para tanto, sugere, deve tomar exemplo nos presidentes cubano e venezuelano, Fidel Castro e Hugo Chávez.
Segundo Niemeyer, mais do que nunca é preciso voltar-se à luta por mudanças radicais. Diante da possibilidade de transformar o mundo, outras atividades – até mesmo a arquitetura – perdem importância. Diz isso e caminha para a sala. Nas paredes, frases que escreveu. “Revolução”, “Terra para todos”, “Por um mundo melhor”. Ao lado, nas mesmas paredes, rascunhos e desenhos de suas obras.
Brasil de Fato – Apesar da queda do muro de Berlim, da dissolução da União Soviética e, agora, da crise do PT, o senhor continua a ser comunista. De onde encontra motivação?
Oscar Niemeyer – Deste mundo de pobres que nos cerca e até hoje espera por uma vida melhor.
BF – O comunismo é a solução?
Niemeyer – O comunismo resolve o problema da vida. Faz com que a vida seja mais justa. E isso é fundamental. Mas o ser humano, este continua desprotegido, entregue à sorte que o destino lhe impõe.
BF – Como se constrói, no ideário popular, uma visão positiva do comunismo – termo que parece estar bastante desgastado desde a derrocada da União Soviética?
Niemeyer – A Revolução Russa de 1917 fez de um país de mujiques a segunda potência mundial. Foi fantástico. Setenta anos de glória e a vitória definitiva contra o nazismo. Não podemos esquecê-la. Sabemos que é o caminho a seguir.
BF – No Brasil, a crise que afeta o PT e Lula enfraquece a luta pelo comunismo?
Niemeyer – Não, ao contrário. A situação se faz tão difícil e degradada que um dia só a
revolução resolverá os nossos problemas. Quando houve a eleição do Lula, declarei que
meus candidatos seriam ou João Pedro Stedile, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), ou Leonel Brizola, exgovernador do Rio de Janeiro. Esses homens são de luta. Lula é um ex-operário, cheio de ânimo, mas nunca foi comunista. Seu projeto era melhorar o capitalismo, o que é um objetivo impossível, a meu ver. Minha posição é que precisamos de um presidente que tenha a força de virar a mesa e realizar mudanças radicais, como Castro e Chávez.
BF – Qual o impacto da crise na esquerda?
Niemeyer – Cansamos de esperar as reformas que Lula prometia. Para nós ele deveria se ligar à esquerda do PT e cumprir as promessas que fez ao povo. Seria a sua última oportunidade.
BF – Lula tem força e, principalmente, vontade para uma mudança radical?
Niemeyer – Tinha. Mas para mantê-la ele teria que se ligar ao povo, apoiar com maior vigor a reforma agrária, o MST, o movimento mais importante que existe em nosso país. Deveria ser menos gentil com os donos do dinheiro, inclusive com o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, um cretino que não devia existir.
BF – O que deu errado no PT?
Niemeyer – Um partido de esquerda que se enfraquece esquecendo as suas origens... Até o MST, um movimento que Stedile lidera tão bem, não teve do governo atual o apoio que deveria ter. Sobre tudo isso escrevi num artigo comentando como é difícil mudar este mundo coberto de miséria e discriminação.
BF – Nesse artigo, o senhor disse que era preciso ser otimista. Continua com essa opinião?
Niemeyer – Sim. Lênin já dizia que sem sonhar as coisas não acontecem.
BF – O senhor concilia arquitetura e comunismo, que parecem distantes...
Niemeyer – A vida é mais importante do que a arquitetura. A arquitetura não muda nada, mas a vida pode mudar a arquitetura.
BF – O que é uma arquitetura mais igualitária?
Niemeyer – Aquela que a todos atende sem discriminação. Vou esclarecer a vocês meu ponto de vista. Quando o governo decide fazer uma escola perto das favelas, a idéia é sempre fazer algo mais pobre. Isto é errado. Recentemente, projetei uma biblioteca e um teatro em Caxias. Fiz como se fosse para Copacabana, o projeto mais audacioso possível. Não pode haver discriminação. Quando Brizola fez os Centros Integrados de Educação Pública (Cieps), vimos que os meninos entravam nos prédios com orgulho, imaginando, na sua inocência, que os tempos iam mudar e eles poderiam começar a usufruir o que antes só às crianças mais ricas era permitido.
BF – A arquitetura está muito vinculada ao urbano. É possível pensá-la para os camponeses?
Niemeyer – A arquitetura obedece sempre a um programa e, no caso, seria diferente, voltada para a vida dos homens do campo.
BF – Se pudesse voltar no tempo, o senhor participaria, de novo, da construção de Brasília?
Niemeyer – Não sei. Brasília foi uma aventura, parecia o fim do mundo. E não eram poucos os problemas que ocorriam naquela época. Lembro que, logo nos inícios de Brasília, fui chamado à polícia política. Avisei ao presidente, que, homem de centro que era, me advertiu: “Você não pode ir. Tiram o seu retrato, e eu não poderei mais recebê-lo no Palácio.” Mas o meu amigo logo se recuperou, telefonando para o general Amaury Kruel: “O Niemeyer não pode ir. É meu elemento-chave em Brasília.”
BF – O senhor foi à política política?
Niemeyer – Mais duas vezes. Numa delas, só para ser “escrachado”, como se diz, isto é, ir de mesa em mesa, apresentando-se aos policiais de plantão. Na outra vez, quando voltei ao Brasil, lembro que fui levado para uma sala acolchoada, onde um policial me fazia as perguntas que um crioulinho batia à máquina. Recordo a última pergunta: “O que vocês comunistas pretendem?” “Mudar a sociedade”, respondi. E o policial disse ao rapaz: “Escreve aí: mudar a sociedade”. E o crioulinho riu, dizendo para mim: “Vai ser difícil”. 
BF – Muitas vezes, o senhor foi criticado porque Brasília é muito vazia. No entanto, sempre que desenhou a cidade, enchia-a de gente. A cidade saiu como o senhor queria?
Niemeyer – Ao contrário, hoje Brasília tem gente demais. Até o tráfego começa a ficar difícil.
BF – Setores da direita e esquerda discutem o impeachment do Lula. No geral, rejeitam a hipótese. O que o senhor acha disso?
Niemeyer – É péssimo. Os que são contra o Lula são muito piores.
BF – Se o presidente realmente estivesse ameaçado de ser derrubado, o senhor acha que as pessoas sairiam às ruas para defendê-lo?
Niemeyer – Depende dele. Depende dele.
BF – O que isso quer dizer?
Niemeyer – Que ele tem que agir, apelar para as bases. Ele prometeu muita coisa e, para acabar seu governo como um homem digno, de pé, precisa cumprir as promessas.
BF – O que aprendemos com a tomada do poder por Lula e com a crise que o assola?
Niemeyer – Um aprendizado muito duro... É que infelizmente falta conhecimento político ao nosso povo para decidir coisas dessa natureza. Sempre reclamamos não serem levados à juventude os problemas da vida e do ser humano, cuja compreensão deve fazer parte de sua formação. Cada um sai da escola apenas interessado nos problemas de sua profissão.
BF – O que quer a direita?
Niemeyer – Manter este clima de poder, de injustiça social e de subserviência ao império norte-americano.
BF – Dizem geralmente que quem controla o mundo é o Bush.
Niemeyer – O Bush, no fundo, é um idiota que tem as armas na mão e delas se serve para levar o terror às áreas mais desprotegidas. Representa o capitalismo, que, decadente, tudo faz para subsistir.
BF – Na arquitetura, o senhor está trabalhando em algum projeto que traduza sua visão atual do Brasil e do mundo?
Niemeyer – Se eu fosse jovem, em vez de fazer arquitetura, gostaria de estar na rua protestando contra este mundo de merda em que vivemos. Mas, se isso não é possível, limito-me a reclamar o mundo mais justo que desejamos, com os homens iguais, de mãos dadas, vivendo dignamente esta vida curta e sem perspectivas que o destino lhes impõe.
BF – A arquitetura não tem função social?
Niemeyer – Deveria ter. Mas, quando ela é bonita e diferente, proporciona pelo menos aos pobres e ricos um momento de surpresa e admiração. Mas quanto lero-lero! Na verdade, o que nós queremos é a revolução.
Quem é - Nascido em 1907, Oscar Niemeyer Soares Filho é arquiteto e militante comunista. Formou-se em 1934 na Escola de Belas Artes, no Rio de Janeiro. Onze anos
depois, ingressou no Partido Comunista Brasileiro. Manteve a militância durante toda a vida. Entre seus principais projetos estão o desenho da sede da Organização das Nações Unidas (ONU), o Parque do Ibirapuera em São Paulo (SP) e, principalmente, a construção de Brasília, onde foi responsável pelos projetos do Palácio da Alvorada, do Congresso Nacional e da Catedral
Glossário
Mujique – Nome dado aos camponeses russos que viviam em regime feudal. O governo
revolucionário, instaurado em 1917, após a Revolução de Outubro, implementou diversas políticas para melhorar as condições dos trabalhadores, especialmente os rurais.
Cieps (Centros Integrados de Educação Pública) – Idealizados por Brizola, em 1983, e projetados por Niemeyer, são escolas de período integral. Atendem em média 1.000 crianças por dia, oferecendo, além de aulas, atividades culturais, esportivas e lazer. Há 500 unidades em funcionamento, geralmente instaladas em áreas pobres do Estado.

Ataque que matou cacique Nizio Gomes no MS teve planejamento minucioso, segundo MPF

DENÚNCIA DO MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL CONTRA 19 PESSOAS REVELA OS DETALHES DA AÇÃO CRIMINOSA, ENCOMENDADA POR FAZENDEIROS E EXECUTADA POR EMPRESA DE SEGURANÇA.

A reportagem é de Verena Glass e publicada pela Agência Repórter Brasil, 01-12-2012.

O assassinato do cacique guarani kaiowá Nizio Gomes em 18 de novembro de 2011, no acampamento da retomada do Tekoha Guaiviry, localizado nos municípios de Aral Moreira (MS) e Ponta Porã (MS), no Cone Sul do Estado, foi um crime que chocou o país e teve grande repercussão nacional e internacional. Agora, dez dias antes do aniversário de um ano do assassinato de Nizio, o processo contra os 19 acusados de planejar e executar o crime deixou de correr em segredo de justiça. 

Públicas desde o dia 8 de novembro, as investigações e a conseqüente denúncia do Ministério Público Federal (MPF) contam uma história digna de romance policial, com relatos de suborno, acenos ligados à disputa do poder político (promessa de apoio à eleição de um amigo da vítima ao cargo de vereador), planejamento minucioso do crime na calada da noite, delação da amante do dono da empresa envolvida no assassinato, entre outros.

Documentos públicos fundamentados em depoimentos e investigações revelam que a trama que levou à morte de Nizio começou pouco após a retomada de um pequeno trecho da Fazenda Nova Aurora pelos kaiowá de Guaiviry, em 1° de novembro de 2011. Vizinhos da área, os réus Idelfino Maganha (dono das Fazendas Querência, Cachoeirinha e Figueira), Claudio Adelino Gali (dono das Fazendas Sonho Mágico e Arueira) e Samuel Peloi (dono da Fazenda Dois Irmãos), além do presidente do sindicato rural e Secretário Municipal de Obras de Aral Moreira (MS), Osvin Mittanck, e dos advogados Levi Palma e Dieter Michael Seyboth (este último, genro do fazendeiro Maganha) começaram a discutir formas para retirar os indígenas da área. Foram aventadas três possibilidades: convencer o grupo a sair mediante o oferecimento de dinheiro; pedir reintegração de posse na Justiça; ou contratar uma empresa de segurança privada armada para promover a expulsão violenta.

Primeiro de tudo, porém, havia a necessidade de sondar o acampamento. Para isso, Osvin apresentou ao grupo o indígena Dilo, conhecido do cacique Nizio Gomes. A missão atribuída a Dilo foi a de levantar o número de acampados em Guaiviry e verificar se o Nizio sairia em troca de pagamento. Dilo foi três vezes ao acampamento, mas o cacique permanecia firme: a terra pertenceu aos seus ancestrais, e lá o grupo ficaria.

Entrementes, os fazendeiros contataram a empresa de segurança Gaspem (conhecida no Estado por suas ações violentas contra acampamentos indígenas), comandada pelo policial militar aposentado Aurelino Arce. Com o fracasso das tentativas de suborno, o grupo decidiu, segundo consta na denúncia do MPF acatada pelo Judiciário, pela contratação dos pistoleiros.

Um dia antes, o advogado Levi Palma e o dono da Gaspem teriam acertado os detalhes da ação. Aurelino Arce acionara, então, seus homens - os réus Josivam Vieira de Oliveira (vigilante), Jerri Adriano Pereira Benites (aposentado), Wesley Alves Jardim (ajudante de pedreiro), Juarez Rocanski (vendedor ambulante), Edimar Alves dos Reis (vigilante), Nilson da Silva Braga (vigilante), Ricardo Alessandro Severino do Nascimento (vigilante e gerente da Gaspem), André Pereira dos Santos (vigilante), Robson Neres do Araújo, Marcelo Benitez e Eugenio Benito Penzo -, enquanto Levi cuidou da logística e reuniu, junto aos fazendeiros locais, as armas para o ataque.

Por volta das 22h do dia 17, o grupo de Aurelino chegou à Fazenda Maranata, onde foi recebido pelo fazendeiro Samuel Peloi, que lhes ofereceu um jantar. Após a refeição, já na madrugada do dia 18, Cláudio Adelino Gali, Aparecido Sanches (seu braço direito e capataz em sua fazenda), Samuel Peloi, Levi Palma e os 12 integrantes da Gaspem fecharam os detalhes do ataque. Conforme testemunhas, os fazendeiros repassaram as armas de fogo (ao menos seis, do tipo calibre 12). Decidiu-se o horário da ação e a logística de carros.

O ataque

O ataque ao acampamento foi perpetrado pelos jagunços Josivan, Jerri Adriano, Wesley, Juarez, Edimar, Nilson, Ricardo Alessandro, Robson e Marcelo Benitez, de acordo com as investigações que sustentam a denúncia.

Ao chegarem na trilha que dá acesso ao interior do acampamento de Guaviry, os homens da Gaspem abordaram aos gritos o cacique Nízio Gomes que, assustado, reagiu e acertou o pé direito de Josivan com uma machadinha. Neste momento, começa o tiroteio. Com um tiro sub-axilar, Jerri Adriano mata Nizio. Seu neto, Jhonaton Gomes, de 15 anos, apesar de também ferido, tenta carregar o corpo do avô, mas quando vê os pistoleiros se aproximarem, foge para o mato. Segundo testemunhas, Jerri vai até a vítima, chuta sua cabeça e diz: "esses índios mesmo mortos ainda nos dão trabalho".

A seguir, Robson, Juarez, Edimar, Jerri e Wesley carregam o corpo para fora da mata e colocam-no em uma das duas caminhonetes S-10 que foram utilizadas para acompanhar e dar suporte à ação. O veículo que transportou o corpo do indígena foi conduzido por Aparecido Sanches (funcionário do fazendeiro Cláudio Gali), que estava com outras duas pessoas (ainda não identificadas). 

Após desaparecer com o corpo de Nizio, o consórcio de fazendeiros montou uma estratégia para dificultar as investigações. Dois dias depois do crime, Osvin Mittanck, Samuel Peloi e Idelfino Maganha se reuniram com o índio Dilo na sede do Sindicato Rural de Aral Moreira. Em troca de dinheiro, pagamento de advogado e apoio à sua candidatura a vereador nas eleições de 2012, Dilo deveria dizer à Polícia Federal (PF) que Nizio estava vivo, escondido em uma aldeia no Paraguai. Pelas mentiras à PF, Dilo recebeu cerca de R$ 2,3 mil dos fazendeiros, apurou a investigação; e concluiu: "o grupo de fazendeiros não poupou esforços para corromper a citada testemunha".

Confirmação da morte

A farsa montada pelos mandantes do assassinato de Nizio não durou muito. Uma das testemunhas-chave no processo foi Tatiane Michele da Silva, de 20 anos. Amante do dono da Gaspem, Aurelino Arce,Tatiane disse à PF que presenciou o momento em que Josivan, Juarez, Jerri e Wesley informaram a Aurelino que teriam matado um indígena durante a ação, e que o corpo já estava longe.

Depois das infrutíferas buscas por Nizio no Paraguai, Dilo acabou confessando o esquema de mentiras, tornando-se outra testemunha-chave do processo. Por outro lado, de acordo com a perícia, análises de sangue coletado no local do crime não deixaram dúvidas de que Nizio foi baleado e morto. "A despeito da não localização do corpo ou dos restos mortais, a prova técnica e testemunhal produzidas nestes autos retratam uma miríade de provas e indícios que permitem concluir pela materialidade do delito de homicídio qualificado ora denunciado", sustentou a investigação.

Segundo o MPF, dos 19 acusados - Claudio Adelino Gali (fazendeiro), Levi Palma (advogado), Aparecido Sanches (tratorista, homem de confiança de Cláudio Gali e capataz de sua propriedade rural Sonho Mágico), Samuel Peloi (fazendeiro), Idelfino Maganha (fazendeiro), Dieter Michael Seyboth (advogado e genro de Idelfino Maganha), Osvin Mittanck (presidente do Sindicato Rural e Secretário de Obras de Aral Moreira/MS), Aurelino Arce (PM aposentado, proprietário da Gaspem Segurança Ltda), Josivam Vieira de Oliveira (vigilante, agente executor), Jerri Adriano Pereira Benites (aposentado, agente executor), Wesley Alves Jardim (ajudante de pedreiro, agente executor), Juarez Rocanski (vendedor ambulante, agente executor), Edimar Alves dos Reis (vigilante, agente executor), Nilson da Silva Braga(vigilante, agente executor), Ricardo Alessandro Severino do Nascimento (vigilante, gerente da Gaspem Segurança), André Pereira dos Santos (vigilante, executor), Robson Neres do Araújo, agente executor, Marcelo Benitez, agente executor, e Eugenio Benito Penzo, motorista -, três responderiam pelo homicídio qualificado, lesão corporal, ocultação de cadáver, porte ilegal de arma de fogo e corrupção de testemunha; quatro, por homicídio qualificado, lesão corporal, ocultação de cadáver e porte ilegal de arma de fogo; e 12, por homicídio qualificado, lesão corporal, formação de quadrilha ou bando armado, e porte ilegal de arma de fogo.

O caso corre agora na Justiça Federal de Ponta Porã (processo 0001927-86.2012.4.03.6005). Já durante o inquérito, a PF havia pedido a prisão preventiva de 18 investigados, dos quais sete continuam detidos. Os acusados foram citados para que apresentem suas respectivas defesas.

Demarcação é reivindicação antiga

A área indígena Guaiviry vem sendo reivindicada pelos Guarani-kaiowá desde 2004. De acordo com as lideranças, a área teria sido demarcada como indígena ainda no século XIX, mas na década de 1910, com a criação da Terra Indígena Amambaí pelo Serviço de Proteção ao Índio (SPI), a população de Guaiviry foi transferida para lá e a área anteriormente ocupada, considerada terra devoluta. Segundo o MPF, “a demarcação da terra indígena Guaiviry é conhecido pleito dos Guarani Kaiowá em Mato Grosso do Sul. 

Foi objeto, inclusive, de Termo de Ajustamento de Conduta – TAC celebrado entre o Ministério Público Federal e a Funai em 12/11/2007, a fim de que a autarquia indigenista enfim promovesse os tão aguardados estudos de identificação e delimitação pertinentes, nos termos da legislação em vigor. Importante ressaltar que o indígena Nízio Gomes figurou como testemunha daquele instrumento jurídico, evidenciando sua importância na luta pelo reconhecimento das terras tradicionais da comunidade Guaiviry”. Até o momento, o estudo da área pela Fundação Nacional do Índio (Funai), ligada ao Ministério da Justiça (MJ), não foi finalizado.

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Pois é a reforma agrária andou. Para trás....


Segunda-feira, 03 de dezembro de 2012

*Por Marcel Farah

O modelo de desenvolvimento desta coalizão governamental é desenvolvimentista conservador. O PT é o que ainda segura a coalizão governamental do descarrilhamento total para a direita, e por isso precisa de uma posição hegemônica dentro do governo. Isso é evidenciado pela disposição da base governista de combater o PT nas eleições de 2012.

A esquerda petista é representada por grupos referenciados pelos movimentos sociais, identificados com o socialismo e defensores de uma estratégia democrática popular baseada em um desenvolvimento com reformas de base que permitam construirmos uma correlação de forças favorável á superação do capitalismo e suas relações sociais.

O ano de 2013 será ano de eleição interna no PT. Ocorrerá no final do segundo semestre o famoso Programa de Eleições Diretas.

Oportunidade única para retomar o diálogo institucional sobre a necessidade estratégica de construção do socialismo a partir de uma programa de reformas estruturais, dentre as quais a reforma agrária, e retomá-la como pauta central do Governo a partir da atuação do PT como um todo em direção à superação das amarras da governabilidade institucional da qual depende o governo e usa como desculpa para emperrar as reformas.

Além de fortalecer a luta dos movimentos sociais populares e da classe trabalhadora em geral temos que, a partir do trabalho de base, fazer atividades de formação que aprofundem nosso conhecimento da realidade e nossa capacidade de análise sobre o momento em que vive o capitalismo brasileiro e mundial, e aumentem a capacidade de organização popular a partir de uma estratégia que unifique as diversas forças sociais, mas que vá sendo construída na luta e na reflexão.

Não podemos nos pautar por estratégias pré-ideologizadas e que desunifiquem pelo sectarismo de alguns setores que se reivindicam mais de esquerda do que outros e busquem soluções ditas radicais que levem ao precipício, como a ideia de rompimento com o Governo Federal.

Esta saída, espetacular, permitiria a consolidação da hegemonia conservadora hoje sem representação partidária em nossa sociedade, mas com representação na mídia e outros setores conservadores cujo um dos bons exemplos foram as reações que tiveram ao PNDH3 (agronegócio, igreja, milicos etc).

Neste caso teríamos novamente partidos reivindicando a representação destes setores e do próprio Governo frente a um PT, que neste caso perderia sua base social, enfraquecido.

A saída que vejo neste cenário é a construção das bases para retomada de um processo de enfrentamento do conservadorismo via estratégia de conscientização e reconstrução de uma estratégia de esquerda, separando o que é e o que representa a direita hoje na sociedade e no estado como um todo, legislativo, judiciário e executivo.

Afinal com Joaquim Barbosas e Silas Malafaias, se acabamos com o pouco que temos de poder estatal no executivo, estamos entregando, de mão beijada, todo o ouro ao bandido e assumindo que lutaremos apenas com pedras e paus contra poderosas metralhadoras de opinião conservadora, tanques de belas leis que retiram direitos e jatos de desconsideração da existência de movimentos sociais por parte de um executivo novamente conservador, como o fora em tempos neoliberais plenos.

Lutemos pela reforma agrária popular. Lutemos pela disputa do PT. Lutemos pelo giro do governo à esquerda apoiado em amplas e fortalecidas bases sociais.

Marcel Farah
(Rede de Educação Cidadã).

http://recid-go.blogspot.com.br/2012/12/pois-e-reforma-agraria-andou-para-tras.html

O Grupo de Capoeira Cordão de Ouro de jardim em Parceria com a Prefeitura Municipal de Jardim - MS e Rede de Educação Cidadã (RECID-MS)

"A 1ª RODA É BOA!"

Evento com propósito pedagógico de debater a lei 10.639 e a educação em Mato Grosso do Sul, dando enfoque no genocídio da juventude negra.

08 à 09 de Dezembro 2012
Local: ESCOLA MUNICIPAL OSVALDO FERNANDES MONTEIRO

PROGRAMAÇÃO:

08/12/12 às 08h - Sábado
Mistica de Abertura
10h - Palestra sobre a Lei: 10.639 e Educação
Genocídio da juventude negra - Facilitadora Romilda Pizani (MS)

11h30 - Almoço

13h30 - Oficinas com a Rede Cidadã - MS
Oficina de Comunicação - Facilitadora Fernanda Kunzler (MS)
Oficina do Teatro do Oprimido - Facilitador Paulo Matoso (MS)
Oficina de Percussão Materiais Reciclados - Facilitador CMestre Pernambuco - (MS)
Oficina de Capoeira - Facilitador - CMestre Igor Gaiola (SP)

18h- Jantar

19h - Roda de Capoeira Angola
Facilitador - Mestre Pequeno (MS)
20h30- Exames de Graduação
Facilitador - Mestre Irani Martins - (RN)

09/12/12 às 8h- Domingo
08h – Roda com os convidados
Batizados Troca de Graduação e Formaturas
11h - almoço e encerramento com entrega dos certificados

O evento contará com a presença do Mestres Pula Pula (RN)

Obs: Você é nosso convidado/a especial.

Desde já contamos com sua participação.

Organização: Prof. Cleyton Cachorrão e Nei Alvez
Fones: 067-9641-7276 (cachorrão) e 9950-9998 (Nei Alvez)
Direção: Mestre Pernambuco
Supervisão: Mestre Irani Martins

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Artigo: Reforma Agrária

"Quero ver do Sul ao Norte
O nosso caboclo forte
Trocar a casa de palha
Por confortável guarida
Quero a terra dividida
Para quem nela trabalha." 
Parativa do Assaré
*Por Pedro Ferreira



Terminaremos 2012 novamente como um dos piores anos das ultimas décadas no processo da política de assentamento de novas famílias por parte do governo federal. Por outro lado vemos um crescimento do agronegócio não apenas através do apoio econômico do governo federal como também através de leis que flexibilizam as leis trabalhista no campo, que afrouxou na punição de crimes ambientais, que possibilita a usurpação dos territórios indígenas entre outros. Pois foi nesse sentido que foi aprovado o novo código florestal e a portaria 303 que permite a remarcação das terras indígenas e outras tantas derrotas que sofremos no congresso nacional por parte da bancada ruralista e do governo Dilma. Militantes dos movimentos de luta pela terra afirmam que vivemos em um período de reformas de base em favorecimento ao agronegócio.

Nos últimos anos tenho participado ativamente de ocupações, marchas entre outras mobilizações dos movimentos campesinos de luta pela terra em Goiás e no Brasil, bem como participando dos espaços de articulação política. Há alguns anos temos feito a analise do abandono por parte do PT e dos governos liderado por esse partido, do abandono da reforma agrária. Nesse sentido construímos varias ações conjuntas no sentido de fortalecer a luta pela terra, ou no mínimo manter a chama acesa.

O fato da maioria dos movimentos camponeses terem uma relação histórica com o PT fez com que nos últimos anos suas direções (cooptadas) recuassem nas ocupações e pressões mais aguda ao governo federal. Por outro lado sem vitórias concretas, formação e trabalho de base os movimentos perderam boa parte de suas bases que preferiram irem para as cidades atraídas pelo crescimento da oferta de trabalho (precarizado), políticas compensatórias e o mercado de consumo (endividamento).

O encontro unitário dos povos do campo realizado no mês de agosto em Brasília foi um avanço no processo de construção de unidade das organizações que atuam no campo, não só camponesa, como também os indígenas, quilombolas e ribeirinhos. E um exemplo do potencial revolucionário que a questão agrária tem no país. No entanto também mostrou as vacilações por parte das direções dos movimentos em relação a ações mais radicais de ruptura com o governo (o discurso do mal menor acaba definindo nossas ações).

Já o governo federal profundamente aliado com a burguesia agrária não vacila um instante em coordenar um processo de anti-reforma agrária profundo, de ataques ao que a luta camponesa conquistou sob o sangue de muitos camaradas que tombaram ao longo do caminho.

Os movimentos de luta pela terra encontram se numa encruzilhada - radicalizar ou não a luta por reforma agrária no Brasil. Romper ou não com o governo petista (o mal menor para muitos). Um dilema que pode ser facilmente resolvido, precisamos apenas resgatar o papel do movimento popular combativo. Ora não devemos nos aliar com nenhum governo que não defende e nem representa os nossos interesses. O papel do movimento popular é pressionar através da luta os nossos direitos negados e usurpados.

É inegável a necessidade de uma reforma agrária de fato no Brasil, bem como das organizações de luta da classe trabalhadora assumir e tocar essa luta nunca de forma isolada, mas conjunta com as lutas por uma transformação econômica e social no país.

Se as ações de articulação e mobilização desencadeadas, sobretudo depois do encontro unitário dos povos do campo não se tornarem em ações concretas como ocupações conjuntas de latifúndios e órgãos públicos, paralisação de rodovias, marchas e o acampamento permanente em Brasília. Devemos decretar o fim da luta pela reforma agrária no Brasil, sobretudo para ás milhares de famílias que ainda resistem nas margens das rodovias em baixo de barracas de lona em situação degradante na esperança de um dia ter um pedacinho de terra para produzir e sobreviver.

Mas se a opção é continuar levando adiante essa bandeira devemos parar de fazer discursos e lamentos sobre a traição do governo do PT. Façamos de fato de 2013 um ano de luta camponesa incessante no campo e na cidade, juntamente com o conjunto das organizações de luta da classe trabalhadora. Pois afinal de conta a nossa luta não é apenas por reforma agrária e sim pela superação do sistema capitalista e construção do socialismo.


*Pedro Ferreira atua como educador popular junto aos movimentos populares em Goiás, sobretudo de luta pela terra e militante do Bloco de Resistência Socialista. (Patativa do Assaré)