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quarta-feira, 19 de junho de 2013

MUITA TERRA PARA POUCO ÍNDIO

Muita terra para pouco índio, essa é a afirmação que ao longo das décadas temos ouvidos soar na sociedade brasileira, da qual somos parte originária. Somos brasileiros natos, nascidos e vividos neste país. Ao reportarmos o processo histórico do país, deparamo-nos na mesma história que até então, estamos esgotados de ouvir nas escolas e que os livros didáticos trazem para reprodução – Pedro Alvarez Cabral em 1500 descobre a nova terra. Pesquisadores e historiadores da atualidade fazem estudos sobre o tema e nos traz informações de que a vinda dos portugueses ao Brasil foi um fato “acidental”! Sim, um acidente de percurso. No período das Grandes Navegações os europeus aguçam a ideia do comércio com as índias e lançam viagens em busca das especiarias. Confundindo-se com a rota, caíram em outra terra imaginando chegarem a seu destino. Daí nos chamarem de ÍNDIOS, termo usado equivocadamente aos povos indígenas, ou seja, povos originários.

Nós Terena do estado de Mato Grosso do Sul estamos vivendo um período da qual preferimos denominar o Tempo do Despertar em busca de tomarmos posse daquilo que é de direito, a nossa terra tradicional. A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 67, afirma: A União concluirá a demarcação das terras indígenas no prazo de cinco anos a partir da promulgação da Constituição. Passaram-se vinte e cinco anos e nada de concreto foi feito conforme o regimento da Lei. E a atrocidade continua atuando com a criação de emendas constitucionais incabível, tal como a PEC 215, contrariando a Constituição Federal na qual podemos crer ser um ato de pura má fé. A emenda transfere a obrigação do Executivo para o Legislativo como forma de manobra, a função de demarcar as terras indígenas. Pois o que conhece o Legislativo de povos originários, se não for apenas às épocas de campanhas eleitorais quando estes buscam seu eleitorado? É inaceitável cruzarmos os braços e assistirmos a plateia nos conduzindo ao deus dará! Questionamos de que forma e até onde pode atuar a Embrapa, o INCRA, entre outros órgãos embargados pelo governo a resolver o problema das demarcações territoriais. Que parecer será emitido caso isso se concretize? Sabemos que esses setores não possuem quaisquer familiaridades até mesmo desconhece as peculiaridades culturais dos povos indígenas.

Acusam-nos de sermos incitados por órgãos governamentais e Ongs a mobilização de invasão de propriedades privadas! Nesse quesito, afirmamos não haver qualquer ato de invasão, pois como pode um grupo ou povo invadir seu próprio território? Estamos retomando aquilo que o próprio governo nos arrancou, encurralando-nos em reservas insuficientes para nossa reprodução física e cultural. Não precisamos de ongs que falem por nós, somos aproximadamente oitocentos acadêmicos no Estado de Mato Grosso do Sul, entre os quais, formados mestres e doutores nas melhores instituições do país. Temos um acervo qualificado de geógrafos, historiadores, advogados e antropólogos, entre outras áreas de formação. Somos seres e cidadãos pensantes, somos formadores de opiniões, pensamos e falamos por nós.

As terras tradicionalmente pertencentes aos povos indígenas são terras que há muitos anos pertenceram aos nossos ancestrais, não se trata de um território qualquer, há um significado de ligação dos indígenas com a terra; por isso a terra é muito além de um simples espaço geográfico; é histórico e contém uma ligação muito forte implicando a espiritualidade, a cultura, a ligação de pertencimento. A população Terena da Terra Indígena de Taunay atualmente está em torno de sete mil habitantes em um espaço de 6 mil hª. Nos últimos anos a população vem crescendo gradativamente e o espaço tornando-se insuficiente. É preciso ação como o movimento de retomada para o governo agilizar as demarcações. Segundo os indígenas, esgotaram-se o diálogo com o governo, não havendo mais alternativas a não ser a retomada.

No entanto, continuamos presenciando indagações com relação a: Para que os índios querem a terra? É muita terra reivindicada para poucos índios! Pois afirmamos o contrário, é pouca terra para muitos índios. E para que reivindicamos? Respondemos: para produzir. A saber, os Terena é um povo exímio agricultor por excelência, vindo da própria tradição. Mantemos a agricultura de subsistência, mas precisamos ir além e projetamos, no entanto, fortalecer a nossa agricultura fornecendo e comercializando aos grandes centros do mercado brasileiro. Nenhuma terra estará à mercê da ociosidade, a terra deverá ser produtivo nas terras retomadas, o que de fato já está ocorrendo.

Lindomar Lili Sebastião – Historiadora pela UCDB e Mestrado em Antropologia pela PUCSP/2012; ex-bolsista FORD, Educadora Popular pela Rede de Educação Cidadã e Terena da Terra indígena de Taunay

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Cabaré dos Enamorados


Quixote

Chega a Campo Grande o espetáculo “Quixote”, com Alexandre Roit e Rodrigo Matheus, do Circo Mínimo, de São Paulo, com duas apresentações, nos dias 12 de junho, às 20h na Feira Livre Central e 13 de junho, às 16h, na Praça Ary Coelho. A montagem foi contemplada com o Prêmio Myriam Muniz 2012 da FUNARTE, Ministério da Cultura, para circulação em algumas das principais capitais das Regiões Centro-oeste, Nordeste e Norte do país.

O clássico em diálogo com o contemporâneo 

“Quixote” é uma atualização dos textos originais de Cervantes para um contexto urbano e teatral, com elementos da cultura popular, técnicas circenses como malabares, acrobacia e os palhaços com suas rotinas cômicas inseridas no contexto dos personagens do clássico da literatura mundial. As mesmas palavras, tais como foram escritas há 400 anos atrás, ganham uma dimensão contemporânea, tornando-se acessíveis sem perder sua poesia.

Na encenação de autoria e direção de Alexandre Roit, a história de Dom Quixote de La Mancha, o famoso cavaleiro andante e seu fiel escudeiro Sancho Pança, ganha versão para rua, reduz a complexa estrutura original para apenas dois personagens: um gari e um morador de rua. “Ao empregar as figuras de um gari e de um morador de rua como os intérpretes da fábula renascentista esta versão se reveste de contemporaneidade, produz empatia junto ao público e estabelece um diálogo criativo cheio de ressonâncias”, declara o Professor Doutor em Teatro Edélcio Mostaço, crítico do Festival Internacional de Teatro de São José do Rio Preto. Entre os objetos de cena destaca-se um tambor de lixo que, fazendo às vezes dos baús de bugigangas, reúne os demais apetrechos manipulados ao longo da montagem. Tudo simples, engraçado, na aventura do herói em luta contra os perigos, e antes de mais nada, com uma alta empatia, arrancando gargalhadas gerais do público. 

Dois atores em estado de graça.

Alexandre Roit e Rodrigo Matheus são Quixote e Sancho Pança. Em cena, o texto é enunciado com uma clareza poucas vezes encontrada em espetáculos de rua, sem o uso de microfones: vozes para serem ouvidas e compreendidas pelos que os rodeiam e que com eles participam do jogo cênico. E que jogo, e não só de palavras, mas de gestos, de ações. Virtuosismos. Este “Quixote” tem uma trama essencializada ao máximo: numa praça encontram-se dois homens, um gari e um morador de rua, Sancho Pança e Quixote, que encontram uma cumplicidade entre o delírio e a lucidez da própria condição humana, da luta entre o ser e a aparência, ente o ideal e o real. Quixote, o personagem, faz Sancho reencontrar na ilusão da ficção que lhe propõe entrar, uma talvez saída para o lixo de sua vida miserável de limpador de ruas. Os personagens não apenas traduzem uma certa loucura dos moradores de rua, loucura metaforizada em Quixote, mas, sobretudo problematizam aquilo que se convenciona chamar de realidade e ficção. E o “louco manso” Quixote, para investir Sancho Pança como seu fiel escudeiro, duela com malabares, com palavras adivinhatórias, para enfim saírem de cena, Cavaleiro e Escudeiro fiel a buscarem mais justiça, mais respeito entre todos.

Segundo a crítica de Antonio Cadengu, Diretor teatral, Mestre e Doutor em Teatro, na Universidade Federal de Recife, o espetáculo : “A platéia entregue ao deleite da cena se contagia pela ficção, pelo teatro e se pega o gosto por isto, repensará a arte que se produz para ela, repensará sua própria condição humana. Presente de Alexandre Roit e Rodrigo Matheus aos passantes da rua, aos que crêem na vida e ainda assim, no teatro.”

O Circo Mínimo, é uma das Companhias pioneiras no país na mistura da linguagem circense com a linguagem do teatro e que em 2013 completa 25 anos. “Quixote” foi bastante elogiado quando da passagem pelos Festivais argentinos de Salta, Rosário, Córdoba, Oliva e Corrientes (onde foi apresentado na língua espanhola) assim como no Circuito Cultural Paulista e no Festival Internacional de São José do Rio Preto. O espetáculo em Campo Grande tem a produção local do Pontão de Cultura Guaikuru.

Histórico do Espetáculo

“Quixote” foi criado para o SESC SP, em 2005, para o projeto itinerante “Mostra de Arte Sesc 2005 – Mediterrâneo” e foi representado em 75 cidades do interior do Estado de São Paulo, nas mais diversas condições e para os mais variados públicos. Em Outubro de 2006, Quixote ganha uma versão em castelhano, que passa por 4 festivais internacionais na Argentina, dentro da programação do INT Presenta, nas cidades de Córdoba, Salta, Corrientes e Rosário. O ano se encerra com apresentação na Mostra Rio -São Paulo de Teatro de Rua, em Paraty - RJ.

Desde então, Quixote vem sendo apresentado em diversos festivais e praças pelo país, como o Teatro nos Parques, em São Paulo, o Circuito Cultural, em 2011 e 2012, Faculdade Zumbi dos Palmares, Festival de Inverno de Campos do Jordão, SESCs do Estado de São Paulo, Festival de Circo de Campo Mourão, Anjos do Picadeiro no Rio de Janeiro, Festival Latino Americano de Teatro – Ruínas Circulares, em Uberlândia, Filte Bahia - Festival Latino-Americano de Teatro da Bahia, Mostra de Repertório do Circo Mínimo Proac ICMS e diversos outros.

FICHA TÉCNICA
Texto Alexandre Roit
Gênero Comédia
Classificação etária livre
Direção Alexandre Roit
Elenco Rodrigo Matheus e Alexandre Roit
Adereços e Figurinos Luciana Bueno
Fotografia Tainá Azeredo, Ricardo Boni e Mauro Xavier
Duração 50 minutos
Produção e administração Circo Mínimo
Realização Alexandre Roit e Rodrigo Matheus

segunda-feira, 10 de junho de 2013

CARTA DE REPÚDIO E DE SOLIDARIEDADE À LUTA DO POVO TERENA DO MATO GROSSO DO SUL E DE TODO O BRASIL


Companheiros/as,

Somos militantes de diferentes movimentos sociais e de outras organizações da sociedade civil, redigimos esta, com o intuito de manifestar nossa indignação em relação aos atos de violência cometidos contra o Povo Terena, e ao mesmo tempo, solidarizar com a luta legítima deste povo. Temos consciência de que foi o próprio Estado brasileiro que promoveu a expulsão do Povo Terena, assim como o Povo Guarani Kaiowá e tantos outros, principalmente na década de 70 quando facilitou o arrendamento das terras indígenas para as frentes de colonização.

Temos conhecimento do fato de que aproximadamente há 15 dias, os indígenas do povo Terena, estão ocupando uma área de demarcação, numa ação de retomada as suas terras, localizada na região de Dois Irmãos do Buriti/Sidrolândia, terras estas de posse das fazendas Buriti e Cambará, cerca de 70 km da Capital. Estão garantindo bravamente a efetivação de seus direitos, como um povo que historicamente foi expulso de suas terras pela força do capital.

Há mais de 15 anos, os Terenas, lutam incansavelmente por seus territórios, declarados pelo Governo Federal com 17 mil hectares, e destes, somente 3 mil hectares estão de posse deste povo, onde cerca de 5 mil indígenas vivem nesta área.

Somos sabedores que a reintegração de posse foi determinada pelo juiz substituto da 1ª Vara Federal de Campo Grande, Ronaldo José da Silva, na tarde desta quarta-feira (29). O magistrado ordenou o uso da força policial para cumprir a determinação judicial.

Neste clima de terrorismo contra os povos indígenas, mais de 20 indígenas entre homens, mulheres e crianças, foram feridos, culminando com a morte do indígena universitário, Oziel Gabriel, de 32 anos, em mais uma ação desastrosa da Polícia Federal, a exemplo do ocorrido com o Povo Munduruku no rio Teles Pires em 2012.

A Polícia Federal de um governo democrático e realmente progressista não pode permitir que seus policiais atuem como jagunços a serviço do agronegócio e do latifúndio. Os responsáveis pelo assassinato da liderança indígena em Sidrolândia e no Teles Pires, devem ser rigorosamente punidos.

Exigimos e apelamos ao Ministro Eduardo Cardozo, Ministra Maria do Rosário, presidenta Dilma Rousseff e o governo do Estado de Mato Grosso do Sul, que tomem medidas exemplares. Mostrem que em um Estado democrático de direito os povos mais vulneráveis têm de ser protegidos, ter o direito à vida e o acesso à terra garantidos, e não serem exterminados pelas forças do Estado! Façam valer a Constituição Federal e a Convenção 169 da OIT.

Essa intolerância governamental em não ouvir, garantir os territórios e respeitar as decisões dos Povos Indígenas, está deflagrando em nosso País um clima de intolerância que desembocará em intermináveis conflitos cada vez mais irracionais vitimando os grupos mais vulneráveis.
 
Diante de todo este cenário, as entidades abaixo assinadas, vem reafirmar o seu compromisso com a JUSTIÇA e a PAZ resultante dela. Declaramos nossa solidariedade à justa luta dos povos indígenas de todo o país e o nossa luta na por uma sociedade plural e realmente democrática.

Assim assinam abaixo:

IMV – Instituto Madeira Vivo - Rondônia
CJS – Coletivo Jovem Pró Sustentabilidade - Rondônia
CEPAT - Centro de Pesquisa e Apoio ao Trabalhador
TGR - Teatral Grupo de Risco/MS
Centro de Estudo, Pesquisa e Intervenção Ribeirão das Neves
Grupo de Mulheres Fazenda Castro "Construindo Diálogos"
Rede Nós Amamos Neves
Rede de Intercâmbio de Tecnologias Alternativas - MG
Comissão Pastoral da Terra/MG
Assembleia Popular PR
Levante Popular da Juventude PR
CEFURIA - Centro de Formação Urbano Rural Irmã Araujo
Centro de Formação Milton Santos Lorenzo Milani
Rede Pinhão
Movimento de Economia Solidária
CFES PR
Consulta Popular PR

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Jornada de Lutas Unitárias dos Movimentos Sociais de Mato Grosso do Sul

       

Desde domingo (02/06) acontece a Jornada de Luta dos Movimentos Sociais de Mato Grosso do Sul, esta se objetiva em uma marcha unificada dos Movimentos Sociais que segue do distrito de Anhanduí a 60 km de Campo Grande até o centro da cidade. A marcha conta mais de 400 pessoas e no Bairro das Moreninhas une-se à força de outros movimentos sociais que caminharão junto à marcha na quinta-feira. A marcha é orientada pelo tema: “Demarcação das Terras indígenas e Quilombolas, Reforma Agrária, contra o Capital e pela Soberania Popular”, portanto, Indígenas, Camponeses e Quilombolas, ganham maior evidência na ação.

    A conjuntura do Estado é de muita tensão, por isso a Marcha recebe um caráter estratégico no momento, tanto pelo projeto de unidade quanto pelo fortalecimento dos movimentos sociais, que reforçado por reuniões com intuito de organizar a marcha. Neste processo, a ideia gira em torno do próprio ato de marchar e por momentos de formação que compõe a ação: vários debates sobre as demarcações, os problemas do Incra, a questão dos agrotóxicos, sobre a comunicação dos movimentos, a Educação Popular como Política Pública e a Universidade Popular, sobre a questão de gênero e principalmente das próximas formas de garantir a unidade para outros atos unificados e de massa, esses debates acontecem num período do dia durante a marha.

    Na última quinta-feira (30/05), Dionédison Candido da etnia indígena Terena e contratado como Educador Popular da RECID-MS, foi preso por mais de 12h pela Polícia Federal, pois está no acompanhamento da reintegração de posse que aconteceu de forma arbitrária nas terras de Buriti em Sidrolândia. Na parte da manhã do mesmo dia, Oziel Gabriel foi morto pela polícia, ainda indeterminado se foi a Polícia Federal, Polícia Militar ou Polícia civil. O Governo do Estado de MS afirmou que as polícias não levaram armas de fogo, mas o Ministério Público Estadual em notícia do dia (03) afirmou ter encontrado munição de armas das polícias, além do indígena morto, outras pessoas foram feridas com arma de fogo da polícia.

    Ontem (04), mais um indígena foi para o Hospital com um tiro nas costas, o disparo foi feito por seguranças de fazendeiros das fazendas vizinhas, o indígena ferido corre o risco de ficar paraplégico, outros indígenas ainda foram feridos. 

    Os indígenas em reunião de conciliação pediram que houvesse uma audiência com a presidenta Dilma, confirmada para dia 19/06/2013, e a revogação da reintegração de posse da fazendo Buriti por quinze dias, e se fosse acordado isso, eles evitariam fazer novas ocupações, contudo a proposta não foi aceita pelo poder público, e por isso os indígenas ocupam outras fazendas na região que compreendem a área demarcada.

   A Força Nacional e o Ministro da Justiça chegam hoje em MS para acompanhar o massacre que acontece em Buriti, enquanto aguardamos as próximas decisões, órgãos de direitos humanos e nosso companheiro da RECID-MS segue acompanhando a situação em Sidrolândia.

  A RECID-MS participou na organização da Marcha Unitária dos Movimentos Sociais, está presente na comissão de Formação Política e alguns de seus integrantes acompanham marchando, além de acompanhar a perseguição e violência contra os indígenas nas fazendas em Sidrolândia.

Comunicação RECID-MS.

"É por amor a essa pátria Brasil que a gente segue em fileira."

sábado, 1 de junho de 2013

Carta Terena à sociedade: porque estamos retomando nosso território Buriti

Nós somos o povo Terena da Terra Indígena Buriti. Mais de 100 anos atrás, nós fomos expulsos daqui pela ambição do homem branco. Há 15 anos nós lutamos para retomar nosso território tradicional.

Nessa luta fomos novamente expulsos da nossa terra em muitas ocasiões. Agora querem nos expulsar mais uma vez. Escrevemos essa carta para explicar à sociedade porque estamos lutando pela nossa terra, porque retomamos nosso território.

Hoje, somos 5 mil pessoas confinadas em menos de meio hectare cada. Dos 17 mil hectares declarados como território tradicionalmente ocupado por nós Terena em 2010 pelo governo federal, temos a posse de apenas 3 mil. Os outros 14 mil hectares estão ocupados por 25 fazendas.

Nesta semana, nós retomamos a fazenda Buriti, a fazenda Cambará, a fazenda Santa Helena e a sede da fazenda Querência São José, abandonada há anos - todas incidentes sobre nosso território.

Nós retomamos essas terras porque elas são nossas e porque não temos terra para plantar.

Nosso povo planta muito. Nas nossas retomadas, temos 350 hectares plantados de mandioca, milho, batata, feijão de corda, cana, abóbora, melancia, eucalipto, maxixe e banana. É assim que vivemos e trabalhamos. Vocês conseguem imaginar como seria ficar mais de um século sem sua terra? É assim que nós estamos.

Todas as vitórias que conquistamos foram fruto da nossa luta, das nossas retomadas. Sabemos que não adianta ficar esperando pela boa vontade de um governo que cede a todas as pressões dos fazendeiros. Já ouvimos a resposta do governo federal às nossas reivindicações: Portaria 303, PEC 215, intervenção na Funai e orquestrações para paralisar processos de demarcação de terra.

Com apoio do governo, os fazendeiros estão se organizando cada vez mais. Enquanto escrevemos essa carta, muitos fazendeiros de todo Mato Grosso do Sul estão com suas caminhonetes forçando para entrar na ocupação. Jagunços e seguranças fortemente armados estão nos rondando e provocando. Se eles derramaram nosso sangue, a culpa é dos fazendeiros e do governo que não dá um basta nessa violência.

Dizemos aos fazendeiros e seus pistoleiros: também estamos organizados. Todos os povos do Mato Grosso do Sul estão juntos na mesma luta, e chamamos todos os patrícios e parentes para nos ajudar agora nesta luta pela vida. Por terra para todas as nossas crianças.

Queremos nossas terras livres e demarcadas. Vamos retomar nossas terras hectare por hectare. Já fomos baleados, presos, espancados e despejados muitas vezes. Mas aqui nós vamos ficar. Esta é nossa fala.

Terra Indígena Buriti, 17 de maio de 2013